domingo, 8 de novembro de 2009

PLACAS E INAUGURAÇÕES

(…)

A semana que antecedeu a cerimónia pública foi um ver se te avias, extenuante, e a sua costela de artista suspenso pela força das circunstâncias, fazia-o duvidar da forma da placa, do conteúdo do texto, do tipo de letra, enfim.
Os improvisados designers municipais empurravam-se em pesquisas aturadas juntando arabescos para um amo que se matinha insaciável. Hilário Manso, vice-presidente que acumulava a direcção do gabinete das Relações Públicas, desbaratava folhas A quatro em que arriscava triunfantes textos de glória e nenhum servia as altas exigências presidenciais, que voltava a ver-se, para além de tudo o resto, como um intelectual, com uma imensa biblioteca em casa e uma inevitável vocação para a literatura.
A oficina de serralharia ficava em polvorosa, e esgotava-se o stock de metais pela dúvida metódica. Ferro não era suficientemente nobre. Prata não, que brilharia por pouco tempo, para rapidamente ficar negra. Ouro não, que ficaria à mão de semear e era presa fácil dos arrumadores e drogados. Talvez titânio, mas não havia quem o entregasse a horas. Mercúrio também não que apesar de ter a vantagem de fazer dilatar as letras com o calor, não havia maneira de o segurar por ser líquido…
Lá teriam que fazer a placa com latão …
(…)

in NUVEM DE FUMO

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